sábado, abril 26, 2008

E porque hoje é 26 de Abril...

O dia 25 de Abril de 1974 é uma marca na nossa história contemporânea e é, para citar uma vez mais Paul Veyne (prócere des Annalles e um dos mais brilhantes historiadores da Nouvelle Histoire...) um fenómeno ACONTECIMENTAL!

O que decorreu depois dessa data - alterou, definitivamente, o curso da História de Portugal e reformatou o País. Foi uma "revolução imperfeita", no sentido que lhe atribui José Medeiros Ferreira, dado que "tocou" pouco no Aparelho de Estado e pouco nos Aparelhos Ideológicos (veja-se o caso da Igreja Católica...).Mas foi-o revolução em muitos e impressivos, aspectos da nossa organização administrativa e política, dos direitos e, sobretudo, das LIBERDADES!

Há coisas que poderiam TER sido feitas de outro modo?...Pois há, mas a história não é feita de suponhamos, ou de hipóteses para o passado, mas de factos (aqueles factos questionáveis, interpeláveis, mas, sempre, incontornáveis...).

É óbvio que tal TEMA mereceria um dabate danado...mas fico-me pela enunciação.

Entretanto está em curso um pequeno "debate" na blogoesfera assente num terreno, para os historiadores, deveras "desconcertante" e escorregadio: a memória de protagonistas dos acontecimentos, a memória de testemunhas dos acontecimentos.

Quaisquer destas "fontes" são úteis, mas têm de ser cotejadas com o que os jornais escreveram, o que as Notas e os planos dos revoltosos do MFA contêm, alguns documentos, poucos, dos sediados e dos alvos a "abater, a controlar ou neutralizar, por estes: o Governo de Caetano e dos poucos apoios militares e policiais. E etc...

Adrede neste debate blogoesférico, pulam afectos, recordações dramáticas, pungentes episódios do foro pessoalíssimo de MUITOS bloguistas e, do lado dos antifascistas uma enormérrima vontade de fazer a DEMONSTRAÇÃO do valor absoluto da DATA que, este ano, comemorou 34 anos!

Nada mais legitimo e óbvio para os que vivenciaram a dita manhã. Como tão bem disse a nossa poeta maior (como Jorge de Sena o reconhecia: maior do que ele.) Sophia de Mello Breyner:

"Esta é a madrugada que eu esperava/O dia inicial inteiro e limpo/Onde emergimos da noite e do silêncio/e livres habitamos a substância do tempo."

Deixo uma pergunta: quando nenhum dos protagonistas do 25 de Abril de 1974 cá estiver, quando não sobrarem testemunhas presenciais dos acontecimentos, como se irá comemorar o 25 de Abril? Como se explicarão os acontecimentos de então? Com os instrumentos que os Historiadores utilizam: as fontes, os documentos e a qualidade narrativa para a historigrafia que cada um deles há-de produzir!

Daqui a 50 anos a efeméride será "comemorada" com um desfile de "abrilistas" a saír do Marquês de Pombal até ao Rossio? Não faço a mínima ideia, mas parece pouco plausível que tal venha a ocorrer!...

Até porque, neste interime, poderá acontecer outro fenómeno de MAIOR grandeza que ofusque aqueloutro!

Porque não comemoramos a Constituição de 1820?

Alguém sabe o Hino da Carta, com letra e música do nosso rei D.Pedro IV? Alguém venera, o coração deste rei, que se encontra na Igreja da Lapa, no Porto?

Não pretendo ser "desmancha-prazeres", mas dizer, prudentemente, que TUDO É RELATIVO....mesmo até as NOSSAS CERTEZAS! As minhas também, claro está.

JA

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