quarta-feira, abril 30, 2008

Ainda Musil: De La Bêtise III

Para festejar a minha "francofília" mantenho Musil em francês que, malgré tout, é uma muito bonita lingua.

"Le vieil adage:'Vanité et bêtisse poussent sur la même tige'. Ce que nous associons à la notion de vanité est bien l'attente d'une production moindre, l'autre sens du mot 'vain' étant proche 'd'inutile'".

Robert Musil

JA

terça-feira, abril 29, 2008

Porque hoje é DIA MUNDIAL DA DANÇA

CANÇÃO

dançamos com a garça trigueira,
dançamos como a garçota,
dançamos como a garça-real,
pessoas e garças dançam,
pelo remanso andamos
arrancando verbasco, dançando.

(Guaíbos)
Poemas Ameríndios, mudados para português por Herberto Helder

JA

domingo, abril 27, 2008

Da teologia e da laicidade

O frade dominicano, Bento Domingues, demolidor, afirmou sem tibiezas, ou sofismas enganadores (vidé Público de 27 de Abril p.p.):

"O culto da personalidade vive dessa preguiça. Ainda há bem poucos anos, era inimaginável um Papa melhor do que João Paulo II. Qualquer discordância era vista como uma infidelidade à igreja. Neste momento, não se perde nenhuma ocasião para exaltar o Papa teólogo e receber, como palavra divina, tudo quanto sai da sua boca ou da sua pena. Já não é suficiente que seja um bom teólogo, com uma boa carreira académica, entre muitos outros teólogos e académicos de várias correntes. A propaganda tenta fazer dele o teólogo, o único, no meio do deserto."

Como se percebe, Frei Domingues está a falar de Ratzinger, o cardeal, agora Bispo de Roma, o que gosta pouco de falar da sua juventude e do convivio de então com as hordas hitlerianas...

Mas é neste caldo que medram os totalitarismos e as suficiências das infalibilidades; é neste caldo que nascem as aberrações históricas associadas á Igreja Católica (universal!...) e ao Comunismo (também unversal!...) e a outras agremiações com a mesma tentação visionária...

Ainda nesta edição do Público, Faranaz Keshavjee, investigadora de estudos islâmicos, insurge-se, e bem, contra a decisão do Bispo de Cantuária ao permitir que os muçulmanos adoptem a sharia em países ocidentais "principalmente, porque, na eventualidade de haver várias doutrinas de aplicação da din e da dunya, é preciso, antes do mais, que os muçulmanos integrem a laicidade, partilhando e construindo sociedades de bem-estar e de prosperidade, partindo exactamente de valores religiosos que fundaram a sua própria fé, e que podem ser partilhados por outros grupos na sociedade."

Touché.

Este artigo, em minha opinião, é de leitura obrigatória para se considerar que é possível um pensamento plural do Islão e do Corão, mas...somente em sociedades ocidentais.

Nunca tal seria possível e/ou aceitável em países muçulmanos, penso eu e, muito menos, um aggiornamento da religião de Alá.

JA

"Esta foi a semana"

António Barreto, na sua crónica dominical andou bem nos quatro temas que escolheu. No quarto já falei.



Destacarei dois outros:



1-Diz o "cronista" (eu prefiro a velha expressão "publicista"...)sobre a crise do PPD/PSD: "Esta foi a semana em que as lutas no PSD atingiram a cor e a temperatura do ferro em brasa. A fazer lembrar a família Adams, mas com menos ternura e graça. Ou será a família Soprano, noutro ramo de negócios? Nunca, em mais de trinta anos, o debate dentro de um partido atingiu um tão baixo nível de educação e inteligência. (...)Ninguém diz ao que vem. Ninguém anuncia programas ou estratégias. Uns desgrenhados, outros arrumados. Uns bem-falantes, outros a vociferar. Uns básicos, outros sofisticados. Parecem bandos à solta, grupos esfomeados á procura de poder e poleiro. É possível que a luta entre famílias do PSD venha ajudar Sócrates e os socialistas. Mas esse é o menor dos males. Grave é o mal que faz ao país."



2- Ainda A. Barreto e sobre um tema sobre o qual já perorei aqui: a liberdade de imprensa versus honra e bom nome dos políticos. Diz o publicista: "Esta foi a semana em que, mais uma vez, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenou o estado português e os seus tribunais por tere considerado um jornalista culpado de comportamento impróprio e ilegal. O jornalista eduardo Dâmaso teria infringido a lei do segredo de justiça. O Tribunal Europeu considerou, novamente, que os tribunais portugueses têm uma comcepção limitada das liberdades de imprensa e de expressão e uma noção restrita do interesses público."



Já o Procurador Geral da Républica Adjunto(não consigo recordar-lhe o nome...) na revista da mesma Procuradoria sustentava a mesma tese: os nossos Juízes, os nossos tribunais, nos pleitos que opõem políticos a jornalistas e ou OCS, tendencialmente, condenam estes em favor da honra e do bom nome daqueles, restringindo assim a liberdade de expressão e de imprensa!



JA

A ética e a moral: o Público d'hoje esteve muito bem.

A minha vida, pretendo que assim seja sempre, assenta numa ética da responsabilidade e numa moral de convicções.

É no cotejo desta legenda que apreciei, sobremaneira, o que ocorreu hoje no Público de 27 de Abril.

1- António Barreto, como eu esperei, faz uma correcção ao texto que dedicou ao livro de Américo Botelho, Holocausto em Angola de 2007. Diz o académico: (...) "O almirante Rosa Coutinho acaba de negar, na revista Visão, a autoria da tal carta. Lamento ter utilizado como argumento esse documento apócrifo. As minhas desculpas ao senhor almirante e aos leitores."

Para mim, pessoalmente - chega.

2- O Provedor do Leitor, o jornalista Joaquim Viera, na mesma edição, dedica uma página inteira ao tema, intitulando a sua "peça" de "Os cronistas também se enganam". O que é de relevar, em meu entender, na prosa do provedor é a critica explicita ao Director do matutino, José Manuel Fernandes e invocação do Livro de Estilo do Público: eu já o tinha feito em post anterior.

3-Mas, tanto António Barreto, como Joaquim Vieira continuam a "enganar-se" e, com eles, a induzir os leitores do Público no mesmo erro. Já esclareci, em post anterior que o vice-almirante Rosa Coutinho nunca foi alto-comissário em Angola. Foi, isso sim, Presidente da Junta Governativa de Angola, entre julho de 1974 e Janeiro de 1975.O cargo de alto comissário para Angola - foi criado na sequência dos Acordos de Alvor, em 15 de janeiro de 1975...

JA

sábado, abril 26, 2008

A favor do ambiente

faltando só mais um monte para chegar a casa. O meu avô trazia-me bolachas Maria e uma bola listrada de borracha de Ceilão.
Outras vzes tomávamos a barca do Douro para a outra margem do rio. "Ó da barca" era o grito vicentino para a barca chegar puxada por uma corda que unia as duas margens e era manejada pelo barqueiro. Cabiam vacas e homens, todos junto na barca.
Agora em Maio ofrecia-se, como uma benção, um gesto de apaziguamento e boa vontade, um ramo enfeitado de cerejas, as primícias.
As mulhres já mondavam as ervas daninhas no esplendor das papoilas vermelhas, com o trigo já alto e grado.
E as jovens solteirs, por honra e vergonha, quando falhava o açafrão abortivo, apareiam a flutuar num poço, com os longos cabelos espalhados como se foram nenúnufares negros.

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Pode haver liberdade sem justiça, mas nãopode haver justiça sem liberdade.
às vezes, apenas instantes de felicidade, tamanha a intensidade e a incandescência, que nais oarece um momento de eternidade.


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25 de Abril outro ------A minha experiência como professor. A tomada da Câmara pelos meus alunos. Iminância de ser preso.Amargos eram os dias que antecederam ABRIL. A cobardia colectiva.Mas é no estrume que nasce, por vezes, o crisântemos mais belo.O ARNALDO, UM HOMEM CONSERVADOR,NUMA DEIXOU DE SE SENTAR À MINHA MESA , não pensando sequer os prejuízos que daí lhe podiam advir. E hoje estou farto de tentos democratas.
É aqui quer regresso. Tão sofrido que as cicatrizes reabrem em ferida que ainda não consegui curar.
E vem-me àmemória um episódio de nojo. Um aluno, informou, como se tivesse feito um acto heróico: "O R. é filho de um pide".Não consegui responder. Dei un grito que se ouviu em toda a escola. E pela primeira e única vez expulsei um aluno da sala da aulas.
O episódio perturbou-me durante muito tempo. A denúncia, a bufaria, ESTÃO NO NOSSO ADN POLÍTICO E SOCIAL há séculos. Não há nada a fazer.


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O sábio não é o que já muito sabe. É o que continua a aprender.

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Palavras-------por vezes pedre ointadas de ternura.

E porque hoje é 26 de Abril...

O dia 25 de Abril de 1974 é uma marca na nossa história contemporânea e é, para citar uma vez mais Paul Veyne (prócere des Annalles e um dos mais brilhantes historiadores da Nouvelle Histoire...) um fenómeno ACONTECIMENTAL!

O que decorreu depois dessa data - alterou, definitivamente, o curso da História de Portugal e reformatou o País. Foi uma "revolução imperfeita", no sentido que lhe atribui José Medeiros Ferreira, dado que "tocou" pouco no Aparelho de Estado e pouco nos Aparelhos Ideológicos (veja-se o caso da Igreja Católica...).Mas foi-o revolução em muitos e impressivos, aspectos da nossa organização administrativa e política, dos direitos e, sobretudo, das LIBERDADES!

Há coisas que poderiam TER sido feitas de outro modo?...Pois há, mas a história não é feita de suponhamos, ou de hipóteses para o passado, mas de factos (aqueles factos questionáveis, interpeláveis, mas, sempre, incontornáveis...).

É óbvio que tal TEMA mereceria um dabate danado...mas fico-me pela enunciação.

Entretanto está em curso um pequeno "debate" na blogoesfera assente num terreno, para os historiadores, deveras "desconcertante" e escorregadio: a memória de protagonistas dos acontecimentos, a memória de testemunhas dos acontecimentos.

Quaisquer destas "fontes" são úteis, mas têm de ser cotejadas com o que os jornais escreveram, o que as Notas e os planos dos revoltosos do MFA contêm, alguns documentos, poucos, dos sediados e dos alvos a "abater, a controlar ou neutralizar, por estes: o Governo de Caetano e dos poucos apoios militares e policiais. E etc...

Adrede neste debate blogoesférico, pulam afectos, recordações dramáticas, pungentes episódios do foro pessoalíssimo de MUITOS bloguistas e, do lado dos antifascistas uma enormérrima vontade de fazer a DEMONSTRAÇÃO do valor absoluto da DATA que, este ano, comemorou 34 anos!

Nada mais legitimo e óbvio para os que vivenciaram a dita manhã. Como tão bem disse a nossa poeta maior (como Jorge de Sena o reconhecia: maior do que ele.) Sophia de Mello Breyner:

"Esta é a madrugada que eu esperava/O dia inicial inteiro e limpo/Onde emergimos da noite e do silêncio/e livres habitamos a substância do tempo."

Deixo uma pergunta: quando nenhum dos protagonistas do 25 de Abril de 1974 cá estiver, quando não sobrarem testemunhas presenciais dos acontecimentos, como se irá comemorar o 25 de Abril? Como se explicarão os acontecimentos de então? Com os instrumentos que os Historiadores utilizam: as fontes, os documentos e a qualidade narrativa para a historigrafia que cada um deles há-de produzir!

Daqui a 50 anos a efeméride será "comemorada" com um desfile de "abrilistas" a saír do Marquês de Pombal até ao Rossio? Não faço a mínima ideia, mas parece pouco plausível que tal venha a ocorrer!...

Até porque, neste interime, poderá acontecer outro fenómeno de MAIOR grandeza que ofusque aqueloutro!

Porque não comemoramos a Constituição de 1820?

Alguém sabe o Hino da Carta, com letra e música do nosso rei D.Pedro IV? Alguém venera, o coração deste rei, que se encontra na Igreja da Lapa, no Porto?

Não pretendo ser "desmancha-prazeres", mas dizer, prudentemente, que TUDO É RELATIVO....mesmo até as NOSSAS CERTEZAS! As minhas também, claro está.

JA

sexta-feira, abril 25, 2008

E porque hoje é 25 de Abril: a liberdade de imprensa

A "revolução imperfeita" de Abril de 1974, incluiu vários direitos. Um deles, central, na nossa democracia liberal e ocidental, é o da LIBERDADE DE IMPRENSA.

O exercício desta liberdade (como o das outras correlativas...) trouxe quadros normativos, regulamentação e até a ERC (!...).

Os jornais, alguns, excederam-se e criaram para uso editorial próprio o chamado LIVRO DE ESTILO.

O Público é um destes matutinos que possui um LIVRO DE ESTILO e... desde 1997!

Na origem deste LIVRO estiveram o então Director, Vicente Jorge Silva e José Mário Costa a que se juntaram, mais tarde, Jorge Wemans e Nuno Pacheco. A actualização do Livro até à última versão de 2005, fez-se com o apport de jornalistas da casa e de especialistas convidados.

Mas o que me importa reler é o que diz o LIVRO sobre os colaboradores, nos quais se incluem vários NOMES importantes, e de diversas áreas de competência, com estatutos editoriais complexos e distintos.

Nessa lista de colaboradores inclui-se o nosso famoso (na actualidade, por más razões...) António Barreto. Passo a citar o Livro de Estilo, do capitúlo "Critérios, géneros e técnicas":

"6-Os espaços de opinião
a. Informação e opinião têm espaços claramente demarcados no PÚBLICO
b- A opinião em sintonia com a actualidade diária divide-se em três géneros: o editorial, assinado por elemento da Direcção editorial; o comentário, assinado por um director, editor ou jornalista; e a opinião, assinada por um convidado.
Estes três géneros têm como denominador comum a interpretação clara e incisiva dos factos e, naturalmente, a opinião do autor sobre a matéria em causa. Essa opinião deverá ser sempre fundamentada, não se inspirando em razões exteriores ao objecto do comentário. Não há quaisquer restrições ao teor das opiniões expressas desde que elas se enquadrem nos preceitos de isenção ética e rigor de escrita que identificam o estilo do PÚBLICO. A independência de espírito, a irreverência e o desassombro polémico são necessários à vitalidade do jornal, mas não é admissível a utilização de uma linguagem panfletária ou insultuosa."

Este tema é tratado, exaustivamente, no Livro de Estilo, mas, para o efeito esta parte é-nos suficiente de modo a enquadrar a gravidade da situação e a responsabilidade do Director do Público, JMF.

E mais não digo sobre esta polémica com AB, na qual o douto académico -se mantem silencioso e imune às injunções feitas de vários pontos, pessoas, quadrantes e sensibilidades político-ideológicas, para que se pronuncie sobre a "carta falsamente atribuida ao Presidente da Junta Governativa de Angola de Julho de 1974 a Janeiro de 1975, o Vice Almirante Rosa Coutinho").

Disse.

Zé Albergaria

NB - Viva o 25 de Abril de 1974 e os seus heróis, os trezentos oficiais do quadro permanente.

quinta-feira, abril 24, 2008

Liberdade de imprensa versus direito ao bom nome e à honra

Hoje, pela manhã, a Antena 1, e também o RCP, noticiavam que, um Procurador Geral da Républica Adjunto (não me recordo o nome...) publicou um artigo, na revista da Procuradoria sobre as sentenças (a tendência...) determinadas em Tribunal e pelos Juízes portugueses nos pleitos que opõem Políticos a jornalistas e/ou órgãos de comunicação social.

Diz o senhor Procurador Adjunto que, tendencialmente, é o bom nome e a honra dos políticos que prevalece, em detrimento da liberdade de expressão. As condenações vão, quase sempre, nessa direcção e ao arrepio do direito comunitário que, esse, salvaguarda, quase como um absoluto, a liberdade de expressão.

Ouvi ainda, hoje, também pela manhã, alguém sustentar que a liberdade de expressão e de imprensa é um dos pilares mais robustos da Democracia. Sem ela, resvalamos para o autoritarismo, para o respeitinho e para o varrimento, para debaixo do tapete, das mazelas da política e dos políticos.

Não poderia estar mais de acordo.

JA

quarta-feira, abril 23, 2008

Quando não fazemos os trabalhos de casa...espalhamo-nos ao comprido. Ainda a carta de Rosa Coutinho.

Eu meti água, aqui, no Aqueduto.

O Água Lisa 6 também.

O sizudo e científico O Tempo das Cerejas, deixou-se arrastar pela imprecisão.

E, o que, de nós todos, se torna mais gravoso é o Ferreira Fernandes, angolano, creio eu que teve responsabilidades governamentais em Angola... no DN e no Sorumbático.

Pois:

O Vice Almirante Rosa Coutinho NUNCA foi Alto Comissário em Angola.

E sabem, todos, porquê? Porque o cargo só foi criado depois dos Acordos do Alvor, assinados em 15 de Janeiro de 1975, entre Portugal, a FNLA, a UNITA e o MPLA.

Foi então que se acordou, entre outras coisas que, para o Governo de Transição, até à Independência, marcada para 11 de Novembro de 1975, se criava o cargo de Alto Comissário em representação de Portugal e para o qual foi nomeado o general da Força Aérea Silva Cardoso. O último Alto Comissário, que abandonou Luanda a 11 de Novembro de 1975 foi o Vice Almirante...Leonel Cardoso.

O Vice Almirante Rosa Coutinho foi, de facto, Presidente da Junta Governatia de Angola de Julho de 1974 até aos Acordos de Alvor, que foram assinados , como já se disse, em 15 de Janeiro de 1975.

Sugestão:
Leia-se a cuidada, quanto rigorosa, obra de José Medeiros Ferreira, que integra o Oitavo Volume da História de Portugal, dirigida por José Mattoso e publicada pelo Circulo dos Leitores.

Está lá quase tudo sobre este período, que ajuda a perceber ainda melhor - a perfídia e a "incompetência" de quem forjou a "carta", não do Alto Comissário (cargo inexistente á época), mas saída, supostamente, do Palácio do Presidente da Junta Governativa.

JA

Porque hoje é dia Mundial do Livro

O livro que quero oferecer:

A Loja dos Suicídios

Romance

Jean Teulé

Editora: Guerra & Paz

Tradução: Suzana Ferrão

"Uma pérola de humor negro", Le Parisien


Ofereci este livro ao meu filho, de 15 anos, pouco assíduo no convivio dos livros. Ontem, quase o devorou, depois das aulas!


JA

José Saramago: critico?!

José Saramago, o nosso, vivo, único, Prémio Nobel da Literatura (e isto é prova de qualidade literária, ou ética, ou da análise que ele produza sobre o quer que seja?...) disse, ontem, na inauguração duma exposição, comissariada por um cidadão espanhol, sobre a sua vida, sonhos e obra, que se encontra no Palácio da Ajuda, e cito:

"Em Portugal não temos espirito crítico: estamos aborregados."

Eu acho que, como dizia Goethe, a "ignorância activa" é do pior que há e é muito perigosa!

Saramago, desde que eu o recordo, sempre foi convencido,snob,e sustentando, sem nunca o enunciar, que a "humildade" faz mal à saúde.

Mas, em meu entender, desta vez, espalhou-se ao comprido!

Quem é o "sujeito" que Saramago esconde atrás de "temos"? e o sujeito que ele sugere, mas não lhe atribui nome, na vizinhança de "aborregados"?

Saramago, por puro marketing editorial e comercial "pirou-se" para Lanzarote (não o fez como o nosso Teixeira Gomes, que desistiu de ser presidente da Républica e foi para a Argélia, onde morreu; não o fez como António Machado, que se exilou em França,onde veio a morrer,na enxurrada provocada pela derrota da Républica Espanhola às mãos das hordas assassinas da Falange franquista.)

Não. Saramago foi para Lanzarote...porque sim! E ninguém tem nada a ver com tal decisão pessoal, do foro intimo do senhor.

Contudo, já sobre as suas invectivas perorantes, no espaço público, sobre essas "posso" e "quero" falar.

Lanzarote fica longe? Portugal, o de 2008, é inacessível? É dificil ter notícias rigorosas da Pátria?

Quantas manifestações se realizaram nos últimos meses, em Portugal, nos vários sectores, sociais e profissionais (professores, função pública, policias, militares, antigos combatentes, industria automóvel, textéis e etc.)criticando o Governo, os empresários, as chefias militares e policiais?

No Parlamento, as várias oposições quantas e reiteradas vezes, criticaram o governo, os Ministros e os Secretários de Estado? Os jornais, as Rádios, as cadeias televisivas, quantas vezes criticaram a Justiça, os governantes, os políticos? Os criticos literários, asseguraram as recensões dos livros, mas quem critica, séria e qualificadamente aqueles? Poucos, mas a excepção encontra-se representada por António Guerreiro de O Expresso, que muito prezo!

A democracia portuguesa, tirante alguns aspectos menos edificantes, está a funcionar e não se porta mal, mesmo em confronto com as democracias europeias mais antigas e consolidadas.

Então onde é que Saramago foi descobrir o déficite de critica e o aborregamento?

Depois de pouco pensar (Saramago, para mim, não vale sequer uns sapatos de defunto...)descobri: no Partido Socialista e, claramente, no Partido Comunista Português, seu partido de sempre...

Diga-se, por amor à verdade que, no PS sempre se consegue descobrir umas vozes, mais ou menos criticas (Alegre, Ana Gomes, Cravinho, o Neto dos moldes, Mário Soares e mais uns quantos). Mas, aqui, o facto do PS estar no poder, com maioria absoluta, leva outros putativos criticos (António José Seguro, Manuel Maria Carilho e ou até joão Soares...) a deixarem-se silenciar, mas lá estão à espera da "oportunidade". Sim, porque, a critica, também carece de circunstâncias.

E o PCP? Onde está a critica e os criticos? Será que foi para este grémio que Saramago escolheu o "estamos aborregados"? Talvez. Quem sabe?...

Saramago saberá quem são os "sujeitos" que se escondem atrás da critica que fez,mas que, por via disso, ficam sem objecto!

Uma tentativa mais: será o Povo português?!...

Bem dizia Óscar Lopes, o linguista do Porto, militante, de sempre, do PCP, que não gostava muito da ficção de Saramago, porque ela denotava, nomeadamente, uma enorme incultura filosófica.

Estará aqui a explicação para a boutade, para a pesporrência de Dom Saramago? Talvez.

Glosando o Rei de Lanzarote, sempre digo : "Porque no te callas?!

Glosando Almada Negreiros, no seu manifesto anti-Dantas:

" O senhor Saramago não é português. Pum!
O senhor Saramago é espanhol. Pum! Pimba!"

JA

PS - O senhor Saramago conhece a blogoesfera portuguesa?

E, já agora, en passant, conhece o espantoso blog cubano Generacion Y?

Quer mais espirito crítico, quer mais desalinhamento do que neste espaço de liberdade e pluralismo?!Quer menos "aborregamento" do que neste território de confronto, ácido, às vezes, aqui e acolá, insultuoso, mas sempre crítico, sempre a fustigar quem se escolhe para alvo!

Hoje calhou-me em sorte, e com vontade o faço, escolher Dom Saramago para o fustigar, CRITICAR: então não foi usted que pediu um "Porto Ferreira"? Que se pôs a jeito para ser criticado?

Eu tenho espirito critico e não estou aborregado. Não lhe parece, Dom Saramago?!

terça-feira, abril 22, 2008

"Os inimigos da democracia"

António Barreto, sociólogo, académico, investigador, fotógrafo, guionista de TV, politíco, publicista, andou mal, mesmo muito mal, na história da carta, suposta e falsa, atribuida ao Vice Almirante Rosa Coutinho e inserta num livro de memórias sobre os anos de brasa em Angola, 75/77 no pós independência nacional daquele país africano.

Aderente da blogoesfera, AB, partilha um mesmo espaço com vários nomes sonantes do Jornalismo e/ou da Opinião publicada: o SORUMBÁTICO.

Tem como colegas de blog: João Paulo Guerra, Baptista Bastos, Joaquim Letria, Nuno Brederode dos Santos, Carlos Pinto Coelho e... Ferreira Fernandes (que publicou naquele Blog as duas crónicas, editadas no DN e que dedicou ao texto de AB, dado à estampa no Público de 13 de Abril.).

António Barreto não tugiu nem mugiu: de que estará à espera?!...

Contudo, e é disto que aqui quero tratar, no passado dia 20 de Abril escreveu um notável texto sobre a crise no PPD/PSD. Aqui deixo um excerto daquela análise.

Disse Barreto:

"Menezes derrotou-se a si próprio como quase ninguém conseguiu derrotar outrem . Sem apelo, sem remédio, sem misericórdia. E sobretudo sem saber o que estava a fazer. Mostrou que também, nos partidos, não apenas nos governos e nos parlamentos, os seus dirigentes caem por si, muitas vezes nem precisam que alguém os derrube. Não mostrou competência. Fez-se de vítima. Acusou os seus correligionários de perseguição e cinismo, coisas que nunca lhe faltaram quando era oposição dentro do partido. Deixou-se influenciar por aqueles assessores, vampiros por procuração, que pedem aos seus príncipes sangue e guerra, mas que são eles próprios incapazes de um gesto de carácter. Usou a demagogia sem contenção. Inventou e cultivou inimigos, pois julgou que era essa a força de um político. Não mostrou ter qualidade de líder ou de homem de estado capaz de destroçar aquela que é a maior fonte de conspiração e intriga do país, o PSD. Fez como os maus estudantes: espalhou-se ao comprido. E como eles reagiu: acusou os outros."

E, contudente, afirma, mais adiante, AB:

"Se excluirmos as tentativas de alguns militares e do PCP, nos anos da revolução de 1974 e 1975, quem ameaçou a democracia foram sempre os democratas. Por incurável demagogia. Por má gestão. Por incapacidade de decisão. Por adiamento de reformas e iniciativas. Por sobreposição de interesses partidários e pessoais aos problemas do país. Por lutas intestinas inúteis e perniciosas. Por demedida ambição de algumas pessoas. Por um grosseiro partidarismo. Por uma irreprimível vaidade de alguns dirigentes. Pela complacência perante a corrupção, a fraude, a irregularidade e o expediente. A derrota de Menezes, em si, é um facto menor da vida portuguesa. (...) Se quiserem encontrar os verdadeiros inimigos da democracia, não é preciso ir procurar muito longe: basta começar pelos partidos e pelos políticos democráticos."

Que irrepreensível análise sobre a crise provocada pela demissão de Filipe Menezes da presidência do PPD/PSD!

Mas esta preocupação de AB - não poderia, ele mesmo, aplicá-la a si próprio?...

Não se poderá, mutantis mutandi, ajustar esta análise ao silêncio confrangedor ao qual AB se remeteu, ainda se remete, quanto à crónica de 13 de Abril?...

Creio bem que sim.

JA

segunda-feira, abril 21, 2008

A ética jornalística existe?

António Barreto, a 13 de Abril, no Público, foi notícia, na blogoesfera e no DN, por más razões: o ter dado eco a uma carta "assinada" pelo Vice Almirante Rosa Coutinho, ao tempo em que era Alto Comissário em Angola, falsa, fabricada em 1975 , divulgada a partir de Joanesburgo .

O autor do "embuste" já se denunciou, faz tempo. É por isto, que, o jornalista do DN, Ferreira Fernandes escreveu, e cito: (...) "é falsa...porque sim."

Em carta enviada ao Provedor do Leitor do jornal em questão, um jornalista português, mas que tem nacionalidade angolana, Artur Queirós, já denunciou o embuste e pediu, ao Director do Jornal e ao publicista em questão, para se retratatrem, cada um a seu modo, correspondendo ao seu grau de responsabilidade...no "incidente".

Até agora, nada aconteceu. Nem um, nem o outro, entenderam que o deviam fazer: estarão a gerir o tempo? A ética dos jornalistas, e das pessoas de bem, aconselharia que tivesse sido já este domingo, mas esperemos - para ver!...

Em contraponto, aprecie-se a tomada de posição do Director de O Expresso, o jornalista Henrique Monteiro, sobre a notícia dada no Expresso Digital, sobre o "falso" internamento de Pinto da Costa, no Hospital da Luz, "vitima" de um AVC. Esta tomada de posição ocorreu na edição de 19 de Abril.

Em substãncia, diz Henrique Monteiro: a noticia era falsa, não foram cumpridos os protocolos da ética jornalista, instaurou-se um inquérito para apuramento de responsabilidades, já se pediu desculpas às pessoas ofendidas e penalizadas!

Henrique Monteiro revelou-se uma pessoa de bem (eu já o sabia e, portanto, não me surpreendeu), probo e, como jornalista, praticante duma Ética irrepreensível.

Fica aqui, neste modesto blog, o registo de que a Ética jornalística existe e, para os lado de O Expresso está de boa saúde. Quanto ao Público, ainda vou esperar para ver...

JA

staline e igreja

Sem me querer envolver na polémica sobre o stalinismo -pensando eu que a existência e defesa do dogma não são boas conselheiras -sempre me apetece dizer que o estalinismo e-porque não?-- o leninismo, têm na sua prática similitudes com o catolicismo. Têm os seus mártires, seja do nazismo e fascismo, seja dos imperadores romanos, têm as suas certezas como absolutas e que hão-de vencer no futuro, mesmo que o presente seja de derrotas. Staline estudou para pope ( padre), a Passionaria ( santa maria das Astúrias que deu o nome de guerra a Dolores Ibarruri) era uma devota até à sua reconversão já próximo da idade adulta; Cunhal teve, por parte da sua mãe, uma esmerada educação católica . Ambas as crenças ou dogmas admitem que a principal razão lhes pertence. Mataram em nome da razão e da fé ( fosse ela 'revolucionária' ou apenas religiosa), na Inquisição e no Goulag, acreditaram-se sempre como vanguardas, seja na luta contra os infiéis, seja no combate a todos aqueles que acreditam e acreditaram que as "liberdades colectivas","amplas liberdades" no eufemismo, não podem de modo algum esmagar, como esmagaram, as liberdades individuais. Milhões de mortos seja nas fogueiras dos torquemadas ou nos nos campos de concentração estalinistas, retiram a qulquer um deles (Igreja ou comunismo que nunca chegou a haver) qualquer superioridade moral, qualquer dimensão ética, enquanto colectivos e instituições. Não ponho eu em causa que na Igreja Católica, quer nos partidos comunistas, não haja excelentes pessoas, de irrepreensível conduta. O que está em causa não é qualidade do indivíduo, o que está em causa é uma ideologia que, em seu nome, pode levar um homem bom a matar outro homem bom. Um carrasco pode ser um pai exemplar, que não significa que deixe de ser carrasco; um homem livre, vítima do carrasco, pode não ser um pai exemplar, o que não significa que deixe de ser um homem capaz de ser livre. Ao nazismo e ao fascismo, na sua barbárie, devemos acrescentar o "comunismo" de Staline, na sua necessidade de matar os outros, em nome de uma utopia em que ele próprio não acreditava. Podemos acrescentar Pol Pot, a Coreia de Norte, a China e tantos e tantos atentados à dignidade humana.

Penso que os pedidos de perdão sobre um passado não são suficientes se não forem claramente condenados por uma prática presente. Que me interessa que se condene Staline se se continuam a utilizar métodos stalinistas ( não obviamente com o terror e a morte, que os tempos são outros e o poder é outro); que me importa que o Papa peça desculpa por Galileu, pelos queimados na Inquisição, pelas guerras que fomentou, se, nos seus métodos, já sem Inquisição nem poder temporal, continua, porém, a tentar impor valores morais ( tão dogmáticos que não permitem a dúvida), a sociedades profanas, seja ela qual for a sua ideologia, e a condicionamentos e restrições das liberdades individuais?

Vivemos um tempo de inquietação e dúvida, sem certezas, apenas com algumas convicções, com a necessidade de um aprofundamento ideológico em que o religioso não esmague o laico, ainda que a espiritualidade aprofunde o conhecimento do homem. As religiões inquietam, sejam elas quais forem, no Médio Oriente, nos USA ou, mesmo na Europa, porque querem condicionar a política e servir de freio e constrangimento à liberdade do homem, ao seu pensamento e ao seu protesto.

P.S.( post scriptum): Eu vi com estes olhos que a terra há-de comer, uma fotografia de dois dirigentes sorridentes: Mário Nogueira e Luís Filipe Meneses. Às vezes uma imagem vale muitas palavras. Tudo o resto é poeira, no argumento do efémero, para esconder a essência do acto.

R.R.

O dia do senhor: DOMINGO.

Este domingo, 20 de Abril do ano da graça de 2008 (os judeus não o datam assim, os maçons tambem não...mas fiquemo-nos por esta convenção.)foi, para mim, pleno de coisas interessantes e só falarei daquelas que importam.

Recuso-me a falar de ténis, futsal, futebol, na crise no Boavista, na Liga de Futebol Profissional, no Benfica, no Sporting e na alegria porcina de NPC, ou nos chistes de mestre "C'ajuda"!...

1.º Tema
Da poesia.
" O crespúsculo do entardecer/sobre o eixo do tempo e sobre si mesmo rodando/abria a vertiginosa vertigem, a sua grande flor azul// e negra, esta flor do luto fechando-se sobre a terra.// É então que tendo talvez mudado a mão das águas/ou interrompido o tempo a mão do mundo/se terá lançado contra a solidão a voz sem mais-/era a noite nascente: a noite que apenas nascia."

Do último livro do poeta Manuel Gusmão "A Terceira Mão, publicado pela Caminho, 2008, 78 págs., €10".

António Guerreiro (um dos mais lúcidos e competentes críticos literários da nossa actualidade), em recensão recente diz, da poesia e, d'algum modo, do poeta: "Experimentemos procurar em A Terceira Mão algumas razões que fazem com que esta poesia esteja à altura das realizações poéticas mais elevadas do último meio século (que foi, de resto, um periodo riquíssimo). Podemos começar por dizer que os poemas elaboram de tal modo a sua forma interna (a tarefa que os produz e a ideia que neles se efectua) que tudo neles é governado, com o máximo rigor, por uma lei da compenetração e da coesão de todos os seus elementos. Chamo a atenção para este aspecto porque ele explica o facto de estes poemas, construindo embora uma metaforicidade política, em nenhum momento concederem qualquer facilidade ao pensamento poético, não deixando que um significado meramente conteudístico, [gnómico] (como dizia Adorno dos filosofemas que Heidegger encontrou na poesia de Hölderlin), venha inscrever-se de maneira mimética e se quebre a síntese, a coincidência do político e do poético."

António Guerreiro, é o mesmo que, pretextando o passamente de Maria Gabriel LLansol dizia que ela será, porventura, a MAIOR escritora, no futuro, que o século XX português produziu...é, ainda, o mesmo que sublinha a qualidade excepcional do "Quarto Magenta" de Mário de Carvalho e de TODA a obra deste nosso contemporâneo...é, ainda e sempre, o mesmo que dúvida das qualidaes poéticas de Manuel Alegre e de ficionista da autora do Cais das Merendas, Lidia Jorge e o mesmo que não gasta um seitil para discorrer sobre a "escrita" de ficção de MST!
António Guerreiro é o MEU crítico de devoção e de eleição!

2.º Tema
Da religião católica e dos seus dramas actuais.

"Deus ainda anda por aí" é o título que Frei Bento Domingos utiliza para a sua crónica dominical, em o Público de 20 de Abril p.p. Esclarece-nos o frade (creio que dominicano...) que "roubou" esta "entrada" ao filósofo G. Vattimo, que, este, utiliza para encerrar um diálogo sobre O Futuro da Religião. Como não sei fazer link's, só mes resta aconselhar a leitura, na íntegra, desta muito interessante e actualíssima crónica do frade Bento Domingues.

Diz aquele filósofo, citado por Frei Domingos:"Não encontro nenhuma explicação para o facto de que alguém não aceite a predicação de uma religião de amor, caridade, pathos e misericórdia. É este o mistério do primeiro capítulo do Evangelho de João: os seus não o acolheram. Mas por que será tão difícil a prédica do cristianismo? Acho que a culpa é da Igreja; não simplesmente por causa da riqueza do papa ou da corrupção dos padres pedófilos nas igrejas americanas,mas por causa da força excessiva da sua estrutura. (...) Quando falamos do futuro da religião, coloco-me também uma outra pergunta: qual o futuro da Igreja, da sua estrutura visível, disciplinar e dogmática? Sou censurado por muita gente por falar ainda de cristianismo em vez de outra coisa, mas o que recebi da Igreja, da tyradição, dos textos, é o cristianismo..."

Mais palavras, para quê?... Isto foi escrito por um filósofo, um crente, um cristão, que argumenta e sustenta com meridiana frontalidade o que, já em minha opinião, deverá preocupar qualquer cristão, em qualquer das Igrejas em que se situe e milite.

3.º Tema
Ainda a religião.

Mas, agora, do ponto de vista duma estudiosa de temas islãmicos, Faranaz Keshavjee, que também nos questiona, no passado dia 20 de Abril, em o Público: Será possível o diálogo inter-religioso?

Eu apetece-me, desde logo, responder pela negativa.

Tenho defendido e argumento que este diálogo só serve, se para isso servir, para aproximar os clérigos, as hierarquias, os teólogos, os filósofos das diversas religiões, os antropólogos e porventura os historiadores e para "trocas" entre eles.

Hoje, haverá quem sonhe com uma religião universal, fruto deste diálogo. Puro engano, em minha incompetente opinião!

Defendo que a "religião" universal, aquela que derivará de "religio" (cumprir escrupolosamente...)está já plasmada nos preceitos MORAIS da Carta Universal dos Direitos Humanos, aprovada à saida da 2.ª Guerra Mundial pelas Nações Unidas.

Sustento que o diálogo entre religiões, a aliança entre civilizações só poderão ter alguma viabilidade se, TODOS, os que nestes processus intervierem, aceitarem, como condição sine quo non e, antes doutros quaisquer pressupostos, aquela CARTA!

Mas o que nos diz a estudiosa Faranaz Keshavjee:"O diálogo será também possível quando o Islão e outras religiões civilizacionais, nas suas mais diversas manifestações, culturais, científicas e artísticas,(-Islão e ciência?!...Islão e arte?!...)possam fazer parte do ensino e investigação também nas universidades. Se existe, de facto, um genuíno interesse da Europa e de Portugal na questão do diálogo inter-religioso, então é preciso incentivar o estudo, a pesquisa e a especialização nas diferentes religiões; precisamos de trabalho sério na área de estudos sobre as religiões. Precisamos de verdadeiros especialistas do Diálogo, daquele de que falo aqui, e não daqueles que se [especializam] assim que dizem umas coisas na TV." E, como remate de conversa, diz Faranaz Keshavjee: (...) para que do apreço sobre essas diferenças se possa construir uma sociedade a partir de uma ética transversal onde o [ser humano], digno e próspero, seja o nome desta reiligião universal. Só assim é possível o diálogo inter-religioso."

Que bem escreve Faranaz Keshavjee!

Do lado do Ocidente Cristão digo-lhe, a esta estudiosa de temas islâmicos(dos seguidores do Islão: "abandono à vontade de Alá!"), há NOMES, iniciativas, interpelações (Secretário-Geral da ONU, Jorge Sampaio, Tony Blair, Zapatero, Padre Anselmo Borges, António Reis, Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano e MUITAS iniciativas já conseguidas e realizadas e etc...). E, no Islão, o que temos já feito, como trabalho de casa?...Nada...ou quase nada!

A Arábia Saudita, a Nigéria, o Irão, a Siria, a Jordânia, Israel, já deram algum passo, por pequeno que seja, para contribuirem para esta "causa"? Não me parece.

Para haver diálogo é necessário, pelo menos, 2 entidades implicadas, não lhe parece?

A improvável possibilidade de diálogo, eficiente, entenda-se, entre religiões e a impossibilidade da aliança de civilizões?!...Talvez.

Eu, pessoalmente, acredito, na Aliança da humana Humanidade, assim o queiram os HOMENS!

E por aqui me deixo ficar.

JA




domingo, abril 20, 2008

O Stalinismo, no seu melhor!

No meu post anterior, aspei uma frase, dando a sugerir que, a sua autoria era de VD...Ela, na verdade, não foi escrita por VD.

Dito isto, o que se me oferece dizer sobre o magnifico adjectivo com que VD me brinda,no seu comentário é: "touché"!

Não é nesse sentido,que você está a considerar, "barato" stalinista, VD! É no outro, o que ilustra, sempre, a "qualidade" do nosso "opositor", contraditor.

Em tribunal, quando nas primeiras injunções,nada ocorre do lado do acusado, diz o escrivão nas Actas: "E aos costumes disse nada!".

Você, "pobre" e "pequeno" stalinista (Sim, porque os houve grandes, como ambos sabemos...o que não é o caso do VD, que é "pequeno"!)não disse NADA sobre o que de substantivo havia no meu post.

VD preferiu ficar pelo "pormenor" e não atacou os meus "pormaiores" relacionados com a polémica que travou com o Água Lisa 6: não vem mal ao mundo! Mas fica registado.

Uma última nota: vê qual a diferença entra a ofensa (TRAFULHA, adjectivo que você utiliza.) e o remoque, ácido, aceito-o sem dificuldade , dos meus "pobre", "pequeno", "barato", "opositor" com que o brindo, neste post.

É a ÉTICA, estúpido! (para glosar aquela outra frase: É a ECONOMIA, estúpido!). É isto que lhe faz falta, "pobre" stalinista, VD e , ainda o sentido de humor, para uma boa e sempre saudável polémica!

Não percebe, nem nunca perceberá, que NUNCA houve superioridade Moral dos comunistas no passado e, muito menos agora, de você, em relação a mim.

JA

NB - Por mim, a conversa morre aqui.
Em relação ao senhor vmorais, a "porta" responde-lhe: veja a foto que Àgua Lisa 6 publicou em 26 de Abril e veja Adenda de VD, sobre a polémica com João Tunes, em que refere o encontro do dirigente da FENPROF com o lídere do PSD, a pedido deste!... Sabe, senhor vmorais, a história é um devir e desenrola-se, não pára. Era tão bom que ela pudesse parar, em função dos nossos sonhos, pesadelos e ou desejos, não era?!...

sábado, abril 19, 2008

Stalinismo: sabe o que é?

Num confronto singular,o meu amigo(declaro-o logo à cabeça, para não pecar por ausência de declaração de conflito de interesse.) João Tunes, editor em Água Lisa 6, travou-se de razões com António Barreto( e bem, por aquele não cuidar de apurar a veracidade de uma carta dada em fac similé, supostamente, da autoria do Vice Almirante Rosa Coutinho...então Alto Comissário em Angola.), colunista de o Público, a pretexto dum livro dum português que viveu em Angola de 1975-1977 e foi preso pelas autoridades d'então e recenseado por aquele "académico" nas páginas da gazeta do patrão da SONAE.

O "inenarrável" Vitor Dias (de quem se dizia, quando ia à RTP1, perorar em nome do PCP: "Faz baixar as audiências da estação e perder votos ao PCP".)no seu blog "tempo das cerejas" admite, malgrado "odiar o Água Lisa 6 e o seu editor" que o João Tunes disse "tudo o que havia para dizer" sobre o assunto.

O João Tunes, que é um homem delicado, sensível, mas com um sentido d'humor ácido respondeu, no seu estilo, agradecido o encómio inesperado!

O VD abespinhou-se.

Num primeiro momento, através dum problema técnico, retirou o seu post inicial acabando, assim, a polémica que se avizinhava.

Há uma série de peripécias,de permeio,na troca de razões travada entre JT e VD, configurando Adendas e contra Adendas, duma parte e doutra, mas o que me importa isolar é a quase conclusão do VD, atacando JT, dizendo-lhe: "Afinal quem é o satlinista? Nâo fui eu que critiquei o encontro havido entre o Mário Nogueira da FENPROF e o lídere do PSD."

Então o stalinismo, resume-se a questões de encontros? Então, aquela cabeça pecêpe, o douto analítico VD - não percebeu o remoque do João Tunes?!

O stalinismo, entre outras coisas, caracteriza-se pela violência, verbal e material, em direcção aos adversários (e, as mais das vezes, contra os seus companheiros e camardas...).

O João Tunes ficou "espantado" com o facto do Dr. Filipe Menezes ter ido à sede da FENPROF e ter sido recebido pelo chefe Mario Nogueira, militante assumido do PCP.

Quantos adjectivos gastou o VD,durante a sua vida de "dedicação e sacrifício" em Notas, Comunicados e no Avante a zurzir nos dirigentes do PPD/PSD, como reacionários, vendidos ao Capital e a mando da CIA e lacaios do Imperialismo?...

Lembrar-se-á o VD (lembra-se, concerteza...)da ominosa campanha contra a pessoa do defunto Sá Carneiro,fundador do PPD, na primeira página de O Diário, durante meses a fio,o jornal que publicava "a verdade a que temos direito" fustigou e apoucou, pessoalmente, o advogado nortenho?...Lembra-se, concerteza!

O espantamento do Água Lisa 6, remetia-se para o perfil daqueles "actores", para o histórico das "relações" d'ambas as instituições desde Abril de 1974: veja-se, PCP e PPD/PSD.

Lembra-se quantas vezes o PPD/PSD esteve presente nos Congressos do PCP, após 1974?

O VD sofre do sindrome do acto falhado ( como o PCP não teve, formalmente, porque estava, então, ostracizado pelo MCI, contactos directos com José estaline, não terá sido contaminado!...é uma tese que já vi expendida por alguns pecêpes.). Leia, VD, os Avantes clandestinos da época e deleite-se com as louas e ditirâmbicos elogios ao Pai dos Povos ainda plasmados!

Stalinismo, é, claramente, na prática actual e passada recente, e mais antiga,o pensamento único,a penalização por delito de opinião, a expulsão do Partido como modo de resolver "as contradições" no seio dos colectivos partidários (quando no Poder - essas contradições eram resolvidas pela prisão,pelo exílio, pela deportação e pela morte e, sempre, pelo denegrimento moral do acusado/visado!).O PCP é, neste enfoque, stalinista desde o SG Jerónimo de Sousa até ao camarada porteiro do Hotel Vitória!

Lembra-se o que foi dito e escrito por si e, antes, por outros próceres do PCP sobre: Piteira Santos,Mário Soares, Zita Seabra,Mário Lino,Vital Moreira, Raimundo Narciso,Edmundo Pedro e...

"Conselhos" a VD:

1- Releia qualquer livro de rigor histórico, à sua escolha, sobre o periodo de mando de Estaline, na URSS (pode mesmo ler o relatório do camarada Nikita...) e verificará o que é que o João Tunes quis dizer, quando utilizou o adjectivo "estalinista";

2- Mas, não quer ir tão longe, no tempo? Muito bem. Recupere as noticias sobre as malfeitorias do, agora muito amado pelo PCP, PCChina. Sim, esse mesmo, que NUNCA criticou o estalinismo. Lembra-se do conflito sino-soviético? Em que campo, então, estava o PCP, o "seu" PCP?

3-Recupere as notícias, de jornalistas inquestionáveis, à sua escolha, sobre os acontecimentos, recentissimos, no Tibete.

4- Quer falar de Cuba, do seu muito estimado, faz pouco tempo, PCCuba, mas vergastado quando, nos idos de 60/70, fazia alguma ironia anti-soviética: lembra-se?

5-Quer falar de Pol Pot, do Cambodja, e a sua, dele, experiência de "comunismo" instântaneo e eugénico, com mais de 2 milhões de mortos?...

Fiquemos, por aqui.

José Albergaria


NB - O João Tunes, como você, têm, no Portugal democrático de hoje(se fosse na sua muito amada e saudosa URSS, não teriam...), direito de reserva da sua vida privada. Você sabe-o bem, mas não resistiu ao ataque pessoal, rasteiro, mas ineficiente, diga-se, "en passant".

Aconselho-o, ainda assim, a rever as informações das suas fontes, mesmo sobre a "reforma" daquele, até porque o processo de que ela resultou teve a ver com a luta, de muitas dezenas de anos, que o João Tunes travou, com sacrificio, empenhamento e muita inteligência...como muitos outros, onde não tenho, sequer, dificuldade em integrá-lo, a si, VD.

Hoje, claramente, você, VD, faz parte do passado, não tem futuro e, vai tendo algum presente porque "aderiu", com dificuldade, percebe-se, ao mundo da blogoesfera que é, meta isso na cabeça, duma vez por todas, um território libérrimo, pluralissimo e, onde, o contraditório convive, sem dificuldades (para os que percebem onde se meteram...)com a opinião diferente, antagónica mesmo!

Uma coisa mais: na blogoesfera existe um código de ética, não escrito, mas que TODOS (quase todos...) respeitamos:a ofensa (não confundir com o humor, que pode ser ácido e, ás vezes faz doer!)não tem lugar neste território e, sobretudo, ninguém pretende destruir o "contendor" no terreno das ideias, nem noutro qualquer território!

Admira-se você que o JT tenha uma reforma MAIOR que a sua, futura?! Meu caro VD, onde está o seu marxismo?

Já se esqueceu das categorias essenciais da teoria marxiana?

O VALOR, a MAIS-VALIA, o TRABALHO PRODUTIVO, o TRABALHO COMPLEXO, que incorpora formação escolar, académica.

Eu creio saber, JT é Engenheiro Técnico Quimico, desde 1967. Trabalha para o Capital desde os finais da década de 60 (1969?...) do século XX.

Então, você que, por opção, é revolucionário profissional, intelectual orgánico (não sei se subscreve esta categoria gramsciana...)ao serviço do PCP, desde...e que se saiba não terá, teve, outros rendimentos que não os parcos rublos que o Secretariado define para TODO o colectivo partidário - sem negociações com sindicatos e/ou comissão de trabalhadores (antigamente, era o equivalente ao salário Mínimo Nacional!), quer "ter" uma reforma equivalente á do JT? Como o faria? A expensas do estado burguês, que você combate, freneticamente, faz décadas? Ou, por que outro qualquer passe de magia, a mereceria? Acha que, moralmente, você deveria ter uma reforma maior que a do JT? Mas de que moral se reinvidicaria?

Não lhe parece, VD, que se deixou enredar numa polémica, tão desnecessária, quanto cheia de imprecisões e de falta de rigor, pela sua parte, entenda-se?!

Não havia necessidade!, mas você continua a considerar o "anti-comunismo" como um crime, para o qual só existe uma penalização possível:"matar" o portador do virus!

Isto, caro VD, só tem um nome, que ficou registado na História contemporânea com um record tenebroso, MAIS DE 20 MILHÕES DE MORTOS, com uma lista de ASSASSINATOS de Amigos, camaradas e Colegas até de Direcção partidária, tanto nacional como internacionalmente!:STALINISMO!









quinta-feira, abril 17, 2008

De La Bêtise II

Ainda & sempre Musil:



Em honra ao "meu" Maio de 68, mantenho a tradução em francês:



"La chose est d'autant plus remarquable que ce n'est pas seulement l'individu privé que se juge, dans le secret de son coeur, extraordinairement intelligent et bien doté, mais que l'homme public aussi dit ou fait dire de lui, dés qu'il en a le pouvoir, qu'il est suprêment intelligent, éclairé, noble, souverain, gracieux, élu de Dieu et voué à un destin historique. Il va même jusqu'á le dire d'un autre, pour peu que le reflect de celui-ci ajoute à son propre éclat. Nous en trouvons dans des tritres como Votre Majesté, Votre Grâce, Votre Excellence les traces fossilisées et à peu près définitevement mortes; mais cela retrouve pleine vitalité aujourd'hui chaque fois que l'homme parle en qualité de masse. Une certaine couche inférieure des classes moyennes - intelectuellement et moralment parlant - surtou, affiche à cet égard une prétention proprement indécent dès qu'elle se manifeste à l'abri d'un parti, d'une secte ou même d'une tendance artistique et sent habilitée à dire 'nous' au lieu de 'je'. "

Robert Musil
De La Bêtise
Éditions Allia

JA

quarta-feira, abril 16, 2008

Maio de 1968: um epifenómeno.

Os textos de António José Saraiva são datados, são escritos a quente em relação aos acontecimentos,são do domínio da história imediata/do jornalismo e são feitos por um não especialista (nem sociólogo, nem historiador, menos ainda politólogo), mas são um testemunho como, em Portugal , haverá poucos!

Para consubstanciar a minha tese, servem-me, perfeitamente.

O que nos relata AJS?

Os actores da "revolta", os seus apoiantes e os "objectivos" que se foram transmutando, ao longo dos dias, mas não tiveram respostas, nem do ponto de vista "organizacional", nem do ponto de vista dos apoios: alianças com outros grupos sociais, camadas e/ou classes (todas estas categorias aceites e entendidas dum ponto de vista marxiano, entenda-se.)

Tudo o que AJS escreve ( não o que descreve, porque isso, tirante um ou outro pequeno pormenor, é do mais rigoroso que eu conheço no campo dos não historiadores...)é incipiente, não vai ao fundo das coisas (no livro que dedicou ao Maio de 1968 é mais elaborado, mas não se distingue muito do que aqui plasmou, para trocar com o seu amigo de sempre - Óscar Lopes)mas dá para perceber que estivemos perante uma imensa e desconcertante rebelião, que questionou muitos postulados (sobretudo do marxismo e da sua versão leninista sobre a revolução, sobre a luta e mesmo sobre as classes e a sua dinámica nas formações socio-económicas determinadas).

Por exemplo, AJS afirma que, em determinado momento, se esteve perto da guerra civil! Santa credulidade! Mesmo em 1870, aquando da Commune de Paris, não se esteve (Marx, lui-même, chama-lhe ensaio geral...), mesmo na Frente Popular de Leon Blum, nunca se esteve, nem perto da revolução, menos ainda da guerra civil!

AJS fala da exigência dos estudantes na "revolução total"; adjectiva os grupos que "floresceram" nessa sementeira de Maio,quais giestas de campina alentejana: maoistas, guevaristas, trotsquistas, situacionistas, anarquistas! Então era com este tipo de grupos (com projectos, cada um deles, quase sempre antagónicos e com lideres fortes e carismáticos: Geismar, Krivine, Sauvageot e etc.)que AJS pensava, acreditava, que se poderia dirigir os exércitos do Povo para subirem aos cumes do sonho e das madrugadas radiosas?!...derrubando os capitalistas e destruindo o velho aparelho de Estado! Incredulidade? Paixão? Devaneio? Detudo isto - um pouco.

Então, com esta profusão de grupos, sem um comando centralizado (tentaram várias vezes, em torno do 22 de Março, de Cohen Bendit, mas sem sucesso...), com inimigos poderosos como o PCF, o Governo, o Exército, a CGT e tuti quanti, como ter sucesso?... O quadro económico era de crescimento, a sociedade de consumo tudo submergia, as férias anuais eram uma realidade. Os franceses d'então tinham rotinas enquistadas:"boulot, metro, dodo!"

O que estremeceu, ao modo de Alberoni, da ruptura amorosa,que este compara a uma revolução social:milhares, às centenas de milhar, de jovens, estudantes, empregados, operários, deixaram jorrar o prazer da irequietude, da transgressão, moral, social, cultural, sexual, dos papéis sociais e etc.

Durante, mais dum mês, dias e noites bem contados, tudo, em França,nas grandes cidades, particularmente e com destaque para Paris, ocorreu uma "ruptura" amorosa!

Em Junho, as eleições provocadas por de Gaulle deram os resultados que AJS relata e que são mais do que óbvios.

Não houve carnificinas, não houve fusilamentos, nem prisões longas, houve algumas expulsões de estrangeiros, mas pouco mais. Tudo decorreu numa onda de ODI ET AMO, catuliano!

O que eu chamo, na minha tese, de epifenómeno, estrela cadente, que desaparece no ceú azul - sem deixar rasto, nem traços, menos ainda sulcos - acho, com honestidade, se pode utilizar para, sinteticamente, legendar o Maio de 1968.

Isso é pouco? Para quem viveu Maio com intensidade, paixão a escorrer, dia e noite, quem amou sob o luar do Sena e nos anfiteatros da Sorbonne, há-de viver, eternamente, com essas memórias.

Mas, do ponto de vista da história, dos fenómenos acontecimentais, aqueles que alteram o curso e o percurso dos homens, dos povos, das nações, das comunidades, das religiões, da Moral, nada, ou quase nada,muuito pouco sobrou do Maio de Paris, no ano de Deus de 1968.

Maio de 1968, além da efeméride, das comemorações revivalistas, o que nos deixou: na poesia, na ficção, na canção, nas belas-artes, no teatro, no cinema: quase coisa nenhuma!

Neste Maio, em 2008, comemoram-se 40 anos daquele outro, onde eu tinha 21 anos e todos os sonhos do mundo eram meus companheiros, onde bailavam cintilantes, em frente dos meus olhos "os amanhãs que cantam" e que, depois, pouco tempo após, começaram a desafinar, assumam, hoje, mais ainda do ontem: "Il est interdit d'interdire"! et "L'imagination au pouvoir"!

Aqui fica o meu preito de homenagem ao Maio, pode mesmo ser ao "meu" Maio de 68, que foi diferente de TODOS os outros...

JA

II - Maio de 1968: a minha tese.

(...)

Continuemos, pois, a transcrição da, em minha opinião, actualissima, quanto interessante, carta de AJS para Óscar Lopes.

"3.ª fase - o momento crítico (29 e 30 de Maio). A CGT e os outros sindicatos, com grande indignação dos estudantes, aceitam negociar com o governo e o patronato o fim das greves. Mas a base rejeita os acordos propostos pelos chefes sindicais. Há o pânico. O PCF decide politizar oficialmente as greves; a CGT organiza uma grande manifestação reclamando [um governo popular e democrático] de que os estudantes são excluídos (28 de Maio). No dia seguinte os estudantes, seguidos por muitos operários jovens e pela CFDT (autogestionária e de influência cristã...) organizam um comício em que se declara que a revolução está em marcha. Os políticos da oposição preparam um governo Mitterand-Mendés France, com participação do PCF. O De Gaulle partiu para Colombey (onde viria a falecer, mais tarde, depois de se retirar do Poder, em consequência da derrota que sofreu no referendum sobre Regionalização...). No dia seguinte golpe de teatro: o DE Gaulle declara num discurso trovejante que não sai (teria já assegurado apoio do general Massu - acantonado na Alemanha), dissolve o Parlamento, e mobiliza os gaulistas. Uma manifestação enorme dos gaulistas nos Campos Elisios (do grego: última morada dos heróis...)mostra que a guerra civil está à vista.

4.ª fase: O refluxo. Os políticos metem a viola no saco. Preparam-se para as eleições. O PC declara que é preciso ganhar as eleições. Os estudantes lançam o slogan 'elections-trahison'.Recomeçam as negociações dos grevistas com o governo, que os estudantes tentam impedir. No dia 7 de Junho a maior parte dos trabalhadores cessaram a greve. Mas há focos importantes (metalurgia, indústria automóvel, televisão).

Neste momento (8 de Junho), a polémica PCF-Estudantes atingiu o auge. Os estudantes tentam arrastar os grevistas restantes a bater-se com a polícia; l'Humanité chama-lhes 'provocadores'.

Este é o esquema, que te dá ideia das forças em presença: os 'revolucionários' (cujo núcleo é o movimento 22 de Março); o PCF, apoiado na maior parte dos sindicatos; e os gaulistas. Quanto aos 'políticos' da oposição burguesa, têm estado apagados.
As estratégias:Gaulismo: pretende reunir toda direita e centro (e os possíveis reformistas de esquerda) com o argumento de que uma ditadura comunista seria o desenlace de uma subversão do Estado. PCF: pretende tomar o poder pelas vias legais, com o apoio das classes médias de esquerda, convencendo a opinião de que é a única força capaz de manter a ordem contra os "enragés"; pretende por outro lado isolar os 'revolucionários'. Movimento 22 de Março e outros de extrema esquerda:esforçam-se por arrancar a base operária ao controle do PCF, lançá-la com os estudantes contra a força pública e provocar a formação de um 'poder paralelo' que substitua o poder existente (controle das máquinas por operários, etc, como já existe de facto o controlo da Universidade pelso estudantes). Os intelectuais, especialmente os cientistas e os artistas de cinema, têm tomado uma posição em flecha ao lado dos 'revolucionários'.

A Sorbonne, como te disse, é um meeting permanente. Não há aulas, nem exames. retratos de Mao-Tse-Tung, trotsky, Guevara, lenine. salas para os diversos grupos. Reuniões sobre todos os assuntos (problemas políticos, sexuais, artísticos, etc.) H, inclusivamente, uma sala reservada às 'minorités sexuelles'. Aberto a todo o público. Numerosos operários participam e tomam a palavra. Há comissões a trabalhar pela reforma das universidades. Os estudantes, exclusivamente, têm ali a responsabilidade da gestão, do 'entretien' e da ordem.

Personalidades: Só há duas: De Gaulle e o Cohn Bendit, um rapaz de 23 anos, anarquista. Foi expulso de França (é de nacionalidade alemã) mas dá conferências de imprensa na Sorbonne, perante milhares de pessoas.

Na Sorbonne e noutros sítios encontras uma literatura mural muito interessante, e para todos os gostos. A frase que me impressionou mais, e que dominava as paredes da Sorbonne nos primeiros dias é 'l'imagination prend le pouvoir'.

Logo que recebas esta, acusa a recepção e faz as perguntas que te apetecer.

Um abraço do Saraiva.

Acrescento que o começo disto foi, absolutamente, inesperado. Não havia agitação operária. recomeçava a expansão económica. Começava a reunir-se a conferência entre americanos e vietnamitas (a conferência de Paz para o Vietnam, entre americanos e vietnamitas, durou de 1968 a 1973). O De Gaulle preparava a viagem à Roménia."

Fim de citação

No entanto, ainda em Junho de 1968, em carta endereçada ao seu amigo de sempre Óscar Lopes, sobre o rescaldo do Maio, AJS, diz:

"Em resumo, o PCF (nas elições subsequentes ao Maio de 1968)perdeu perto de 3/4 dos deputados e cerca de meio milhão de votantes. A Féderation, ainda de Pierre Mendés-France (donde sairia o PSF de Mitterand, da rosa...)perdeu mais de metade dos seus deputados. Os gaulistas ortodoxos t~em a maioria absoluta. seguem-se-lhe, em número de deputados, os giscardianos (que estão à direita dos gaulistas, e não ao centro como dizem), o PCF, a Federação e os Centristas. Há um número considerável de gaulistas de esquerda. (...) O mais curioso é que o PCF perdeu uma parte do seu eleitorado nos seus bastiões tradicionais, como a chamada 'ceinture rouge' de Paris. Houve muitos operários que votaram gaulista. O operariado vota no PCF como um elemntoda ordem e não da revolução. (...) Não haja ilusões, a URSS, e com ela os PC's dos vários países, com poucas excepções, é um sistema burocrático e conservador. A idade mediana dso dirigentes políticos da URSS é (em termos cronológicos) a mais elevada dos dirigentes políticos do mundo. Um objectivo fundamental de um chefe político soviético é conservar-se no poder.
(...)O De Gaulle não se identifica com a burguesia nem com o exército. A ideia da participação dos operários nos lucros e na direcção efectiva das empresas (isto é na cogestão) é uma velha ideia dele que sempre teve a oposição do patronato e dos ministros. Desde os acontecimentos de Maio - este tem sido o grande temas dele. O Pompidou vai sair do governo porque se lhe opõe..."

Fim de citação.

Ora aqui estamos. Tenho muito pano para mangas, mas só vou começar o fato, amanhã.

JA

terça-feira, abril 15, 2008

Maio de 1968: a minha tese.

Sustento que, de algum modo, os acontecimentos de Maio 1968, em Paris e em França, foram um epifenómeno - não uma "marca" acontecimental, no sentido da historiografia de Paul Veyne.

Nâo deixou traços, nem sequer sulcos, nem culturais, nem estruturais,nem sociais, menos ainda nas instituições (salvo, talvez, nas Universidades..., que se massificaram, "democratizaram"!e, nas empresas, no território do exercício da democracia sindical e provocou, então, aumentos salariais!).

Deixou, isso sim, toda uma profusão de "mitemas" cultuados pelas "tribos" de esquerda, ao modo dos sobreviventes da Commune de Paris!Creio mesmo que menos ainda: há poucas marcas literárias, há poucas marcas poéticas, quase nada, ou mesmo nada, na música/canção, quase nada na filmografia e na dramaturgia!

Estive a reler a carta, datada de 8 de Junho de 1968,de Paris, que António José Saraiva enviou ao seu amigo Óscar Lopes, então no Porto e arreigado ao comunismo ortodoxo do PCP, na clandestinidade e, acho-a, do ponto de vista dos factos que então ocorreram - notável!

Começa AJS:

"Tenho estado a assistir a uma coisa que não se vê todos os dias: uma revolução (...)".

Mais adiante, continua ele, AJS, descrevendo as fases do processo: "1.ª fase: Os estudantes conquistam a Universidade [3 a 11 de Maio]. A entrada da polícia na Sorbonne provocou manifestações crescentes no Quartier Latin. Houve centenas de feridos, mas nem um só morto. O grupo que desencandeou isto é o [movimento do 22 de Março]m amálgama de anrquistasm trotsquistasm pro-chineses, guevaristas e'situacionistas'.

2.ª fase: as greves. Inicialmente o PCF condenou os 'excessos' dos estudantes. Mas como as barricadas emocionaram toda a população, a CGT e os outros sindicatos organizaram uma manifestação, a maior de que há memória em Paris [13 de Maio] e declararam a greve geral em paris por 24 horas. No dia 15, espontaneamente, começam grees nas grandes empresas metalúrgicas, que rapidamente se alstraram. Ao fim de 8 dias há em toda a França 10 milhões de grevistas. Mas logo se desenha uma oposição entre o PCF e os estudantes. Na Sorbonne não há aulas, mas comícios políticos permanentes. Os estudantes pretendem fazer a revolução total contra o [capitalismo e a sociedade de consumo]. A CGT por seu lado defende as [reclamações] operárias 'salários, securité social, liberdade sindical'. Há um conflito aberto. Os estudantes são impedidos de entrar nas fábricas pelso piquetes de greve. No entanto muitos operários jovens querem chegar à fala com eles. No dia 24 de Maio, em que o De gaulle propõe o referendum, há 2 manifestações, a dos estudantes e a da CGT. Os estudantes queriam provocar a junção das duas. O PCF evitou-a, alterando à última hora, o itinerário da manifestação da CGT. No dia 24 de Maio novas barricadas, em vários pontos de Paris, que o l'Humanité condena expressamente como sendo obra da pègre (escumalha)."

A carta já vai longa, mas ainda tem mais substância que eu considero fundamental para sustentar a minha tese e para rememorar os FACTOS, esses incontornáveis quanto decisivos no apuramento da VERDADE histórica e da história.

Amanhã voltarei à CARTA de AJS e à minha argumentação.

JA

segunda-feira, abril 14, 2008

"De la Bêtise"

Musil é, para meu prazer, um dos escritores "canónicos", cuja obra o "O Homem sem Qualidades" é de leitura, mais do que obrigatória!

Tenho à cabeceira, faz pouco tempo, um pequenino livro, traduzido para o francês e publicado pelas Editions Allia, "De la Bêtise".

Recomendo-o, vivamente!

Enquanto ele não se deixa ler por "outros", aqui deixo, hoje, um pedaço, amanhã, outros.

Como festejámos o Maio de 68 e a França d'então, deixo-o na lingua traduzida:

"Il n'est pas une seule pensée importante dont la bêtise ne sache aussitôt faire usage; elle peut se mouvoir dans toutes les directions et prendre tous les costumes de la verité. La verité, elle, n'a jamais qu'un seul vêtement, un seul chemin: elle est toujours handicapée. La bêtise dont il s'agit là n'est pas une maladie mentale; ce n'en est pas moins la plus dangereuse des maladies de l'esprit, parce que c'est la vie même qu'elle menace."

Robert Musil
JA

As efemérides são para serem festejadas?... Maio de 1968!

Sim e assumo-o, claramente, sem ademanes.

As razões?: TODAS elas são boas.

Mas, também, podemos querer NÃO as comemorar e/ou festejar.

Este ano comemora-se os 40 anos do Maio de 1968 que fez "estremecer" a França!

Ando a dar pequenos passos na arte/ciência (ainda persiste esta dicotomia...) que é a História. Paul Ricoeur diz que ELA é, a historiografia,uma NARRATIVA e do dominio da metafora!

Sendo um "apaixonado" da escola de Marc Bloch/Lucien Febvre "Les Annalles", considero, à moda do "meu" mestre José Mattoso (ele não sabe que eu sou seu discipúlo devoto...), que o "apport" dos positivistas actuais (em Portugal são: Vasco Pulido Valente,Maria José Bonifácio, Maria Filomena Mónica, etc...O maior de TODOS, falecido faz pouco tempo, Oliveira Marques!)é da maior importância, porque não diminuem o valor dos FACTOS.

Paul Veyne, o da Nouvelle Histoire, sustenta uma categoria "NOVA" e bem interessante: um fenómeno "ACONTECIMENTAL", o que faz caminho e formata a história!

A pergunta que eu deixo, hoje por aqui - é: Os acontecimentos de Maio de 1968, em Paris e na França (com sequelas em Berlim, Bélgica,Holanda, Portugal e etc...)foram um fenómeno ACONTECIMENTAL? Marcaram, de algum MODO, o DEVIR histórico?

Creio que NÃO!

Amanhã - começo a defender a minha tese!

JA

NB - Cheguei a Paris no dia 13 de Janeiro de 1968.
Em finais de Abril, de 1968, consegui um certificado de doença (num médico do PCF)e deixei de trabalhar para VIVER, intensamente, até ao dia 30 de Maio de 1968 (data em que fui preso em Flins, "à l'aube", quando "tentávamos" tomar de assalto a unidade da Renault de Flins, a mais moderna empresa, à data, do Grupo e pejada de imigrantes OS's)!

Tinha 21 anos quando fui testemunha e protagonista duma "revolução" falhada!

domingo, abril 13, 2008

Ainda & Sempre António Machado

LA SAETA

?Quién me presta una
escalera
para subir al madero,
para quitarle los clavos
a Jesús el Nazareno?
Saeta Popular.


!Oh, la saeta, el cantar
al Cristo de los gitanos,
siempre con sangre en las manos,
siempre por desenclavar!
!Cantar del pueblo andaluz,
que todas las primaveras
anda pidiendo escaleras
para subir a la cruz!
!Cantar de la tierra mia,
que echa flores
al Jesús de la agonia,
y es la fe de mis mayores!
!Oh, no eres tú mi cantar!
!No puedo cantar, ni quiero
a ese Jesús del madero,
sino al que anduvo en el mar!"

António Machado

Poesias Completas
Colección Austral
Editorial Espasa Calpe

JA

A Senhora Ministra da Educação

Digo, desde logo, que detesto a palavra "educação", prefiro-lhe "escola" e acho graça a "instrução".

O simpático latinório ajuda-nos a perceber estes meus estados d'alma em relação a conceitos em relação aos quais, de tão usados, já quase ninguém se atarda neles.

Este meu discorrer vem a "despropósito" da presença da actual Ministra da Educação, na passada quinta-feira, 10 de Abril, na Brandoa (não na mítica dos Gatos Fedorentos...), mas na actual e bonita freguesia da Amadora, para inaugurar uma Feira do Emprego, organizada e promovida pela empresa municipal, Escola Intercultural, das Profissões e do Desporto.

O que quero destacar é:

1- A ausência dos grandes meios de comunicação social. Isto não é sequer uma critica, mas uma constatação;
2- A entrega de diplomas de 12.º ano, a adultos que aproveitaram "As novas oportunidades";
3- A ministra sublinhou a importância das autarquias no sucesso escolar, como agentes fundamentais da comunidade educativa (continuo a não gostar da expressão...) e das empresas (falararam, no acto inaugural, entre outros, o Director de Recursos Humanos da Siemens...);
4- A ministra, sublinhou a importância do Programa, pioneiro na Amadora (único no país...)de Formação Profissional para jovens, entre os 12 e os 15 anos, jovens que tinham abandonado o sistema oficial e obrigatório de ensino.

Hoje, lendo a reportagem da UNICA, sobre a Casa Pia ,percebi, finalmente, o interesse da ministra por este programa: ela foi casapiana, ganso!

E isto faz toda a diferença.

A ausência da comunicação social?...ponham-se no lugar deles: trocariamos uma atoarda, um ribombo, um foguetório do escuteiro Màrio Nogueira da FENPROF por um programa de sucesso, que visa "recuperar" jovens para o sistema de ensino e tirá-los da marginalidade e da deliquência? Claro que não.

Mas este programa de formação profissional, 12 - 15, aprovado pela ministra Maria de Lurdes Rodrigues, apoiado pelo Ministério, com professores, com curricula validados, teria ido p'ra a frente se, a Senhora Ministra da Educação, não tivesse sido casapiana?

Tenho a certeza que não!

Sempre me vem à cabeça, nestas, como noutras circunstâncias, o meu poema preferido, do sevilhano António Machado:"Caminante, son tus huellas/el camino, y nada más;/caminante, no hay camino,/se hace camino al andar./Al andar se hace camino,/ y al volver la vista atrás/se ve la senda que nunca/se ha de volver a pisar/Caminante, no hay camino,/sino estelas en la mar."

Não se pode ter medo dos caminhos nunca percorridos. O desafio é sempre o mesmo: demandar Indias por haver, sempre, esse é o destino e o desafio estratégico!

JA

sábado, abril 12, 2008

"Entre as brumas da memória"


Dum campo de nenúfares, d'entre as brumas da história, do passado,, emergem, poderosas, impressivas, as memórias duma lutadora, católica, que, nessa trincheira travou as lutas que entendeu dever cumprir, nas circunstâncias e no tempo que lhe foram dados viver.

Amigo comum chamou-me a atenção para o percurso civico da Joana Lopes, para o seu Blog e para o seu livro.

No Blog, tenho vindo a navegar faz tempo.

Do livro, que comprei ontem (encontrei-o na FNAC de Alfragide) já quase o devorei.

É um testemunho rico, valioso e que, para a historiografia do século XX, do Salazarismo, particularmente da década de 60 até ao 25 de Abril de 1974, deixa-nos vislumbrar que houve mais resistência ao fascismo para além da do PCP (que, de resto, como a própria autora o faz, TODA a gente reconhece...).

É, para mim, particularmente, interessante a deriva de muitos intelectuais portugueses, católicos militantes, empenhados, comprometidos com a Igreja Católica, que acreditaram, num primeiro momento, que podiam lutar contra o fascismo do próprio interior da Igreja Católica e das suas organizações de leigos: e fizeram-no com argúcia, inteligência e rigor taticisa.

Depois, o afastamento e a procura incessante duma solução "mistica", a partir de múltiplos exemplos de vida, em que não faltou mesmo a do padre guerrelheiro Camilo Torrres (nascido em Bogotá em 3/2/1929 e morto pelo exército colombiano em Santander, a 15/2/1996).

Ainda vou a meio do livro, mas já recordei bastante e aprendi outro tanto.

A "mitografia" dos comunistas, do "Partido", como única força organizada na resistência ao fascismo começa a ruir. Não vem mal, nem ao mundo, nem aos comunistas, que tal aconteça: é a VERDADE acontecimental no seu melhor que começa a esburacar os paredões da mistificação.

Ainda bem que a Joana Lopes conseguiu "roubar" tempo ao seu, dela, tempo, para nos brindar com o seu "testemunho". Que outros, até doutras áreas "ideologicas" o possam fazer.

Estou a gostar muito de a ler. Quando acabar voltarei ele, aqui neste Blog.

Agora, outra questão que me trouxe aqui, hoje, no 1.º Aniversário do Blog da Joana Lopes.

Quando o Professor Emidio Guerreio festejou os seus 100 anos, fizeram-lhe um homenagem, na sua Guimarães natal.

Quando o Edmudo Pedro (o mais jovem comunista a malhar no Campo de Concentração do Tarrafal) festejou os seus oitenta anos, fizeram-lhe uma homenagem na sua Lisboa de adopção.

Quando o antifascista e luareiro Herminio da Palma Inácio, fez oitenta décadas de vida, outra homenagem nacional estralejou.

Quando o médico, Fernando Valle, comemorou o seu centenário, outra homenagem nacional arrebentou.

E já nem estou a falar das homenagens e honrarias que o Estado e a Chancelaria das Comendas e Ordens lhes atribuiu, a cada um deles, pelas causas da Liberdade que abraçaram!

O que aqui quero deixar sugerido é:

1- Porque não aproveitar-se a efeméride próxima, de vida, da cidadã Joana Lopes e organizar-se-lhe uma homenagem, pública e, porque não?, nacional;

2- Nesta homenagem, simbolicamente, seriam honrados as élites católicas que, nos anos de brasa da década de 60 do século XX deram o corpo ao manifesto na luta contrra o fascismo lusitano.

E mais não digo.

JA

PS - Ainda não fui à bruxa nem, por pudor, lá irei...

Andoche Junot

Andoche Junot, maçon, entrou com as suas tropas em Lisboa. Vai fazer ou já fez 200 anos. Napoleão tinha sido coroado imperador pelo Papa da Igreja Católica, Apostólica e Romana. Maçon, Junot quis ser grão-mestre da maçonaria portuguesa, o que lhe foi recusado pelos maçons portugueses. Futuro rei de Portugal, como esperava e declara vir a ser, quis que na Maçonaria o retrato de D. João VI fosse substituído pelo retrato de Napoleão. A maçonaria portuguesa recusou. E que fez a Igreja Católica, Apostólica e Romana, perante este jacobino? Deu-lhe laudas e em pastorais dos seus bispos, aconselhou os fiéis a aclamaram-no, ajudando-o, denunciando e o mais que aprouvesse à hierarquia da Igreja. É Luz Soriano, na sua lucidez e rigor, que regista para o futuro as pastorais da ignomínia dos bispos-chave da hieraquia da Igreja Católica em Portugal. Recordemos alguns extractos. O cardeal patriarca de Lisboa, José Francisco de Mendonça, apela, na sua pastoral, a ler em todas as igrejas da cidade de Lisboa: "Não temais, amados filhos, vivei seguros em vossas casas e fora delas; lembrai-vos de que este exército é de sua majestade o imperador dos franceses e rei de Itália, Napoleão o Grande, que Deus tem destinado para amparar e proteger a religião e fazer a felicidade dos povos: vós sabeis, o mundo todo sabe. Confiai com segurança inalterável neste homem prodigioso, desconhecido a todos os séculos; ele derramará sobre nós as felicidades da paz, se vós respeitardes as suas determinações, se vos amardes todos mutuamente, nacionais e estrangeiros, com fraternal caridade".
É raro ler um texto com tanta hipocrisia, quando todo um povo começava a ser violado e violentado e as igrejas saqueadas.
Também o bispo do Porto, António José de Castro ( embora mais tarde se arrependa da pastoral da ignomínia e adira à Junta Patriótica do Porto), divulga entre os fiéis do seu rebanho: "Estas tropas que aqui vedes entrar, são nossas aliadas e pacíficas, e quam as manda entrar tem sido prevenido e armado por Deus de poder e sabedoria para as fazer entrar e para as saber dirigir a fim da nossa felicidade, e devemos seguramente confiar no mesmo Senhor que não seja outro o seu destino. Sim, o Immperador dos franceses e Rei de Itália, o Grande Napoleão, não poderia de outro modo servir-se de nós para aumentar a sua glória verdadeira, senão fazendo-nos felizes. Não é crível que na grandeza sem igual do seu coração, no ardente desejo da sua glória, pudesse entrar em Portugal para outro fim. Este grande imperador, elevado sobre o trono dos seus triunfos, tem unido a eles a glória de fazer dominar a nossa santa religião nos seus estados (...)
Os templos estão cheios destes militares que edificam, e que por tudo nos poem interiormente na necessidade de os amarmos como próprios filhos, e exteriormente na obrigação de darmos este testemunho público da nossa satisfação e do seu merecimento. Esperamos que este testemunho fundado já na experiência e conhecimento destas tropas religiosas, pacíficas e bem disciplinadas, vá servir não só para desvanecer aos vossos ânimos qualquer receio que vos pudesse causar a sua entrada, mas também para mostrar a obrigação em que estamos todos de praticar com elas todos os bons ofícios da caridade e de hospitalidade, como se fossem nossas próprias, e ainda mais por se acharem fora do seu país".

Trata-se é certo de uma encomneda de Roma, vinda do Papa que consagrara Napoleão como Imperador. Mas também não era necessário tanto exagero...
Por último, leiamos a pastoral de inconsútil patriotismo do bispo titular do Algarve, José Mátia de Melo, confessor privativo da louca D. Maria I : " É necessário ser fiel aos imutáveis decretos da divina providência e, para o ser, devemos, primeiro que tudo, com coração contrito e humilhado, agradecer-lhes e tantos e tão contínuos benefícios que da sua liberal mão temos recebido, sendo um deles a boa ordem e quietação com que neste reino tem sido recebido um grande exército, o qual, vindo em nosso socorro, nos dá bem fundadas esperanças de felicidade.
Este benefício igualmenmte o devemos à actividade e boa direcção do general em chefe que o comanda, cujas virtudes são por ele há muito tempo conhecidas. Lembrem-se que este exército é de sua majestade o imperador dos franceses e rei de Itália, Napoleão o Grande, que Deus tem destinado para amparar e proteger a religião e fazer a felicidade dos povos. Confiai com segurança neste homem prodigioso, desconhecido de todos os séculos; ele derramará a felicidade da paz, se respeitarem as suas determinações, e se amarem todos, nacionais e estrangeiros, com fraternal caridade. Deste modo a religião e os seus ministros serão respeitados, não serão violadas as clausuras de esposas do Senhor, e todo o povo será feliz, merecendo tão alta protecção".

O bispo do Algarve estava preocupadíssimo com a virtude das 'esposas do senhor' ( freiras em linguagem corrente). A subtância das três homilias tem uma raiz comum: a directriz do Papado para não molestar Napoleão, mesmo que Napoleão molestasse nações inteiras. A real politik do Vaticano consegue conciliar a conciliação com o Poder profano à hipocrisia da justificação do poder sagrado. Hoje como ontem...
Rogério Rodrigues