segunda-feira, março 17, 2008

liberdades

sou a favor das manifestações quando elas pretendem que algo se mude, para melhor, ou melhor dito, para uma melhoria. Sou a favor das manifestações que tudo recusam, rejeitam e reivindicam liberdades individuais e comportamentais, como proibido proibir, a praia no asfalto, a avaliação pelo sotaque.

Sou a favor das manifestações que querem mudar. Custa-me a compreender as manifestações que querem manter o que está, sabendo que o que está não está certo estar e que há anos atrás combateram por estar. Lembro-me das decisões do Cardia, enquanto ministro da educação e que agora são defendidas, 20 anos depois, depois de tão criticadas, na rua, nas paredes, no parlamento e nos jornais. L'air du temps dá destas coisas.

Lembro-me da "geração rasca" que foi adulterada neste modelo educativo.

Já me custa a compreender manifestações com o gato escondido com o rabo de fora. Manifestações de conteudo de classe ou casta, mnifestações reclamadas de reivindicações meramente profissionais, expressam-se nas palavras de ordem, na expressão mediática como meras manisfestações políticas, do inclemente bota-abaixo, sem uma alternativa, um aceno do bota-acima.

Já muitas vezes, em 30 anos de Democracia ( quase sempre mais formal que participativa, mas sufragada no voto secreto, muitas vezes em contramão ao voto da rua) assistimos a este paradoxo: a ilusão do poder acreditar-se poder real.

O PCP, por exemplo,domina a Fenprof, tem capacidade organizativa, alimenta-se do resentimento, bajula a facilidade, apela ao estômago mais do que à cabeça e ao coração, o PCP, hoje um "produto menor" --nas suas propostas e não no seu direito-- da Democracia ( e não se esquecem os seus contributos para uma resistência ao fascismo, mas que nós, que saibamos, não vivemos no fascismo e as gerações mais novas já foram criadas nos vícios e virtudes da democracia), tem sempre combatido mais os governos de esquerda que os governos de direita, sejam eles liderados por Soares, Guterres ou Sócrates.

Tentar alguém dizer que o PCP, por ele próprio, e pela CGTP não manipulou a manifestação dos professores ou é ingenuidade ou condição de avestruz. Nenhuma organização de classe poderia colocar no Terreiro do Paço 100 mil pessoas. Para o PCP terá sido uma espécie de Festa do Avante! para docentes e afins.

Os professores querem ser avaliados mas ainda não agora. As vitórias de Pirro são proclamadas como grandes vitórias e nem sequer se lemram da célebre frase do aristoircrat latifundiário siciliano de "O Leopardo" de Tommasi Lampedusa, quando diz: " `E preciso mudar qualquer coisa para que tudo fique na mesma".
O que é que a Fenprof e o PCP conseguiram mudar? A qualidade do ensino? A qualidade dos professores? A sua dignificação pedagógica? A sua maior intervenção na comunidade? Ou tratou-se de uma mera reivindicação laboral escondida numa não muito trasparente reivindicação à avaliação, híbrida nas suas vertentes pedagógica e salarial?

( Zé, não sei como é que isto vai chegar ao blogue, pois perdi a primeira versão e não sei se esta chega emcondições. Coisas de aprendiz de blogue. Com o treino vamos lá).
Pedro Castelhano




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